Lourdes Mata

Tendo como formação inicial de educadora de infância na Escola João de Deus licenciou-se posteriormente em Psicologia, na Área de Psicologia Educacional, no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Em Dezembro de 1990 obteve o Diplome d´Etudes Approfondies pela Université de Provence, Centre d´Aix e mais tarde o Mestrado em Psicologia Educacional pelo ISPA. Doutorou-se em Estudos da Criança pela Universidade do Minho, em Julho de 2003.
É actualmente Professora Auxiliar no Instituto Superior de Psicologia Aplicada leccionando nas cadeiras de Psicologia da Aprendizagem e da Motivação, Psicologia da Educação 1 e 2, e Seminário de Dissertação. É também membro da Unidade de Investigação em Psicologia Cognitiva do Desenvolvimento e da Educação. Tem colaborado com a DGIDC, Ministério da Educação, como especialista na redacção de pareceres sobre a educação pré-escolar e também como autora e formadora no âmbito da brochura ‘Descoberta da Escrita’, editada por esta entidade.
Nos últimos anos a investigação que tem conduzido, no âmbito das linhas de investigação da unidade de investigação que integra no ISPA, enquadra-se em duas grandes temáticas. Por um lado, as questões relativas à descoberta e aprendizagem da linguagem escrita e ao papel dos diferentes contextos onde a criança está inserida, nomeadamente o contexto familiar. Por outro lado, as questões ligadas à motivação para a aprendizagem, nomeadamente para a aprendizagem da leitura e da escrita, ao longo do processo de aprendizagem e ao estudo de eventuais associações entre as motivações das crianças e as suas realizações, práticas e hábitos de leitura.
  • Resumo da comunicação
Quando falamos de literacia familiar, podemos estar a referir-nos a concepções diferentes. Inicialmente este termo foi usado para descrever práticas de literacia diversificadas que se desenvolviam em casa e na comunidade, ou seja sobre os modos como as pessoas aprendem e usam a literacia nas suas vidas em casa e na comunidade. Actualmente, este termo por vezes reenvia para uma concepção menos descritiva e mais prescritiva, relacionando-se com muitos programas de intervenção no âmbito da literacia familiar, centrando-se muitos deles no ‘déficit’ procurando aplicar a mesma actuação a um conjunto complexo de diferentes situações sociais. Muitas vezes, neste âmbito, prescrevem-se formas de actuação para os pais desenvolverem em casa com os filhos, transpondo actividades e estratégias do meio escolar para o meio familiar.
Neste sentido procuraremos reflectir, ao longo da comunicação, sobre o grande desafio que se nos coloca actualmente, de modo a conseguirmos a participação e colaboração dos pais de uma forma integrante e integrada, respeitando e valorizando a diversidade dos seus hábitos e actividades de literacia, mesmo quando estes não são muito consistentes nem frequentes. É um facto que se desenvolvem diferentes práticas de literacia no dia-a-dia das famílias, sejam elas de um estatuto sociocultural mais elevado ou mais baixo, sendo assim necessário identificá-las, valorizá-las, dar-lhes visibilidade e introduzir intencionalidade na sua exploração, tornando-as muito mais completas e ricas. Certamente que uma interacção multiplicada no tempo e multifacetada em actividades de literacia reais, significativas e funcionais, poderá ter um impacto muito superior no desenvolvimento da literacia das crianças, do que actividades pontuais, por vezes desenraizadas e tecnicistas.
Procuraremos acompanhar esta nossa reflexão com os resultados de alguma investigação desenvolvida nos últimos anos sobre as práticas de literacia familiar e a sua relação com os conhecimentos emergentes de literacia das crianças.